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  • carol zanarotti

A outra história da verdade

Essa é a história da outra verdade da foto da 'chantagem' que postei recentemente no instagram. Uma das verdades, afinal a vida é cheia de muitas versões que acontecem simultaneamente. Cada vez mais vejo as coisas como um cristal multifacetado no qual cada um dos lados nos mostra uma pequena parte da história, igualmente verdadeira. E por mais que todas essas diferentes versões possam se tornar incoerentes quando juntas, cada parte é tão pura e real quanto todos os outros lados, só depende da forma como você a vê ou se permite sentir. Quem me conhece sabe como gosto de me meter em projetos fotográficos, talvez o mesmo tanto que gosto de criar hashtags para eles. Desde que parei o #caritoycariño_oprojeto fiquei aliviada e triste ao mesmo tempo. Conclusão, fiquei com uma sensação esquisita. Para mim não ter um projeto fotográfico significa estacionar - e ao mesmo tempo significa descansar a mente de pressões internas. É acomodar e ao mesmo tempo é ampliar meu foco de interesse para outras áreas. É me conformar com a minha preguiça e consequentemente deixar de explorar e brincar com a fotografia. Mas igualmente verdadeiro, não ter um projeto me faz me sentir mais livre e menos culpada por não conseguir seguir a risca o que me propus, e não fico sempre com aquela sensação de pendência. Em resumo, projeto pessoal é uma maravilha e é também um saco! É a liberdade e o aprisionamento juntos, depende só do lado que você escolhe ver ou do seu humor do dia. Mas também quando você aprende a se soltar dos seus próprios grilhões através de um projeto, o vôo é imensuravelmente mais belo e libertador do que qualquer desculpinha que você se dá por não fazer um projeto. O ano começou e decidi que não ia fazer nada a respeito, que continuaria sem fotografar no meu tempo livre, portanto ficaria estacionada. Estacionada... Que coisa mais deprê... Soa quase como uma sentença de morte na qual me conformo em definhar voluntariamente a cada dia - assim, bem dramático mesmo. Os dias passaram e um buraco foi crescendo. Será a hora de começar algo novo? Ainda não sei.

Por mais que eu saiba que posso começar qualquer coisa quando eu quiser, existe algo mágico em começar no início do ano e finalizar quando o ano acaba. Todo ritual traz uma sementinha de poder em si que dá aquele gás necessário par dar o primeiro passo. Foi pensando nisso tudo, nos benefícios de realizar um projeto e com essa sensação de ter perdido a onda, que notei que ainda era dia 7 de janeiro. Eu, malandra que sou, muito bem treinada pelo o meu projeto semanal que fiz por quase 4 anos, logo pensei "tenho até a meia noite para fotografar". Fiquei pensando no que gostaria de fazer mas nada de especial vinha em mente. E analisando agora, vejo que talvez o que mais gostaria de ganhar fazendo um projeto é resgatar a vontade. Sei exatamente, e como sei, o que é essa vontade. É aquilo que me faz correr para pegar a câmera, e por cansaço, preguiça ou apenas falta de tempo (chame do que quiser), optei por inverter as prioridades e deixar essa vontade se desnutrir lentamente. Ela deu as caras muitas e muitas vezes mas fui deixando-a sem resposta, até que ela foi aparecendo cada vez menos. No fim quando a vontade aparecia, ela nunca conseguia ser maior que o meu esforço. Deixei de lado. As ondas passaram. Seria impossível contar quantas vezes senti isso no último ano. Impossível. De algumas cenas, as mais recentes, ainda tenho as fotografias mentais que fiz, mas sei que com o passar dos dias elas vão se apagar assim como as outras, as fotografias abortadas antes do tempo. E hoje talvez a falta que eu sinto não é da vontade em si, mas sim de saciar a sede avassaladora dela. O dia passou e o sentimento se foi, como sempre a onda varreu a areia. Mas a hora mágica, a hora dourada do fim da tarde, chegou. Poucos minutos antes do sol se pôr, algo mágico sempre acontece. Talvez a magia esteja no fato dessa luz durar poucos minutos e mudar a cada segundo que passa. Há algo incrivelmente especial nessa luz quente e acolhedora, em tudo que toca dá um banho de purpurina dourada. Inclusive na vontade. E uma das coisas que a fotografia me ensinou é que quando não há nada que julgo ser incrível acontecendo no momento, talvez seja um sinal que tenho que por a mão na massa e criar. Nada acontecia em casa mas minhas filhas estavam lá, só precisava de uma ajudinha delas para fazer a foto acontecer. E foi assim que pedi, supliquei a ponto de fazer as mais diversas chantagens emocionais como contei no post daquela foto. A luz ia se esvaindo como os últimos grãos de areia caindo da ampulheta. A minha vontade pulava dentro de mim como um cachorro recebendo os donos depois de dias sem vê-los. E eu com a minha câmera na mão - finalmente! Pois é, tem horas que chantagem vale super a pena ;)

Ainda não sei se terá projeto ou não, e acho que nem preciso saber isso agora, muito menos definir. Mas se eu puder fazer um pedido para a primeira estrela que vejo no céu é esse: matar a sede da minha vontade. Feliz ano novo para você! Espero de coração que você também consiga matar a sede da sua ;)

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