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  • carol zanarotti

Sobre a foto me prendeu e depois me libertou


Quando fui editar as fotos da festa do Martin me perdi nessa foto por um bom tempo. Acho que de certa forma ela traduz em imagem um sentimento que ainda não sei explicar mas que sinto sempre que vou fazer uma foto posada de uma família.

A foto posada é como um documento para mim, aquela foto que TEM que ter, apesar do restante 98% das fotos que entrego terem uma pegada mais livre e espontânea como essa. Fico inquieta quando não consigo fazer uma foto posada com todo mundo bem e olhando, e fico orgulhosa quando consigo fazer uma boa foto porque, acredite ou não, tem vezes que é uma missão quase impossível ainda mais quando tem muita gente e cada um olha para um lado mesmo com você chamando e armando um circo para chamar a atenção (o que faço às vezes rsrs). Mas essa foto me prendeu e depois me libertou.

Vejo a vida pulsando nessa imagem, vejo eles sendo exatamente quem são naquele momento. O José querendo fugir da foto, afinal tem tanta mais coisa legal para fazer do que ficar parado sorrindo, né, José? O Bruno e a Laura tentando segurar ele, e a expressão deles... aaahhh! Não tem mal tempo, não tem exigências ou chantagens, não tem bronca! Eles querem a foto juntos mas é leve, é quase uma brincadeira e isso transborda no sorriso deles! Cansei de ver pais chateados com os filhos porque querem tanto que os filhos fiquem fofos nessas fotos posadas e no fim tudo que vejo é tristeza nos olhos das crianças enquanto forçam um sorriso. E isso me machuca e me faz questionar sobre o real motivo dessas fotos, me sinto culpada por fazer uma criança passar por isso e criar uma relação negativa com a fotografia. E no meio disso tudo, a Ju toda apaixonada segura o Martin, que me olha com esse olhar de quem quer entender quem é essa pessoa segurando esse troço que parece ser fantástico e cheio de botões para apertar. Olho essa foto e me arrepio... Vejo verdade, vejo movimento, vejo um pouco da personalidade de cada um. Afinal, tem documento que retrate de forma mais fiel quem eles são? Precisam todos estar com um sorriso pronto olhando para a câmera para assim chamar de retrato 'perfeito' de família? Fiquei um bom tempo sumida daqui, refletindo sobre a minha fotografia e sobre o tipo de memória que quero fazer. Para que eu possa oferecer o meu melhor, sinto cada vez mais necessidade de ver a verdade e não somente a aparecia que agrada aos olhos. Para eu oferecer o meu melhor preciso da leveza e da brincadeira, e de fato, não trabalho bem quando vejo qualquer tipo de opressão. E talvez por isso eu deixe de ser uma opção de fotógrafa para muita gente, e tudo bem.

Cada vez mais tenho sentido que é hora de me reconstruir e me libertar do peso de certas obrigações que me imponho. E se tudo der certo, quem sabe eu possa ajudar alguém a ver a fotografia posada de uma nova forma, uma que seja mais leve na qual os filhos não precisam sorrir se eles não quiserem, e perceber essa beleza mora na entrelinha, nessa dança de ser quem se é naquele exato momento, e ter a liberdade de poder querer fugir, mostrar a língua, fazer bico ou careta e sorrir quando e se tiver vontade. Vou estar do outro lado fazendo palhaçada como sempre, mas se tiver sorte, a foto vai criar a sua própria narrativa, assim como nessa imagem, e terei a honra de poder ajudar a guardar esse momento!

#DeixeACriançaSerLivre #CenasDeFestaDeGenteFesteira .............................................................................................

Postagem feita no instagram que resolvi trazer para cá.

Às vezes rolam soltos alguns textos, histórias e reflexões.

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